‘Nunca tivemos um acidente como esse e não temos uma análise geológica sobre os paredões’, diz prefeito de Capitólio

O prefeito de Capitólio, Cristiano Geraldo da Silva (Progressista), disse em entrevista na tarde deste domingo (9) que nunca havia ocorrido nenhum acidente como o deste sábado (8) e, por isso, não há um estudo ou análise geológica sobre os paredões. Dez pessoas morreram após um pedaço de rocha do cânion atingir quatro lanchas que estavam no local.

“Desde o ano passado fizemos um trabalho pesado com relação a tromba d’ água com os três municípios: Glória, Passos, Capitólio, para que pudéssemos mobilizar os empresários das cachoeiras, das lanchas, empresários dos passeios de caminhonete 4×4 para que ficassem atentos a tromba d’água. Agora uma queda de paredão de pedra, como nunca teve em Capitólio, não temos”, afirmou.

Uma lei municipal regulamenta o funcionamento do turismo dentro dos cânions. Ainda segundo o prefeito, “olhar para dentro de uma tragédia e fazer um questionamento desse não seria virtuoso. Acredito que daqui para frente sim, a gente precisa fazer uma análise dessa”, disse. O Governo de Minas Gerais decretou luto oficial de três dias em todo o estado

Além do prefeito de Capitólio, a Polícia Civil, Corpo de Bombeiros e Defesa Civil também participaram da coletiva. Pela manhã, a Polícia Civil identificou a primeira vítima, um idoso de 68 anos. Segundo o delegado, o corpo dele foi identificado por familiares.

O delegado informou o trabalho delicado para a identificação das vítimas. Ele pediu compreensão com relação ao tempo do processo de identificação.

“Gostaria de deixar bem claro para os senhores que não é uma perícia fácil de fazer, vamos fazer uma nova contabilidade de vítimas, assim que sair daqui eu vou para o IML de Passos. Mas, não é uma perícia rotineira é uma perícia que carece de atenção maior e peculiaridades não podemos correr mais do que já estamos correndo”, disse.

Na mesma entrevista, a Defesa Civil disse que fará uma reunião com os prefeitos da região nos próximos dias.

“Faremos uma reunião com os prefeitos onde serão estabelecidos novas medidas a serem colocadas em prática para garantir a segurança dos turistas da região e trabalhos por exemplo, se vai ter geológicos para fazer laudo da região’.

O que dizem os especialistas

Especialistas ouvidos pelo g1 comentaram sobre as possíveis causas da queda do paredão. Segundo o geólogo do Serviço Geológico do Brasil, Tiago Antonelli, o acidente está ligado a vários fatores.

“Na minha opinião, essa queda não está ligada ao [fato de] lago ser artificial ou [se fosse] natural. A queda, no meu ponto de vista, está ligada a vários fatores, mas principalmente, nesta época do ano, às chuvas que percolaram as trincas e fraturas que existem. A chuva acelera tanto a formação quanto o tamanho dessas trincas. Então a trinca foi sendo percolada com água, os sedimentos foram saindo e acelerou-se os processos erosivos que culminaram na queda desse bloco. Antigamente, essas áreas, nas décadas de 50, 60, não tinham pessoas navegando, ocupando, tirando foto. Esse tipo de evento é natural e ocorre aos milhares no Brasil inteiro. O que acontece é que hoje o turismo está avançando para regiões, que antes não se conheciam. E hoje as pessoas estão portando celular e câmera fotográfica e, com isso, conseguem relatar esse tipo de evento e até sofrer com as consequências. Mas, no meu entendimento, é um evento natural que acontece aos montes no Brasil inteiro”.

Para Joana Paula Sanchez, especialista em turismo geológico e professora da Universidade Federal de Goiás, a queda de um paredão não é tão comum, mas ela pode ocorrer.

“O que acontece hoje em dia é que a gente não tem mapeamento geológico, nesses locais, de uso turístico. É muito raro existir uma análise geotécnica, uma análise por um geólogo, de riscos desses locais. E as pessoas não estão acostumadas a olhar rocha e saber se elas vão ceder ou não”.

Joana completa ainda que “a gente não tem, nos espaços turísticos, um mapeamento geológico técnico. E falta mesmo. Faltam profissionais, mas falta muito mais as gestões públicas saberem que o geólogo não é só para mineração. A gente trabalha também com risco de acidente. Esse acidente poderia ter sido evitado, sim. Esse bloco já estava se deslocando da parede, dá pra ver que ele já estava fraturado. Várias imagens que a gente recebeu de anos atrás já mostrava essa fratura”.

Tiago Antonelli, geólogo do Serviço Geológico do Brasil, falou sobre a imprevisibilidade de um acidente como ocorreu em Capitólio.

“Prever dia e hora em que isso vai acontecer é difícil, mas saber que tal porção da encosta está na iminência de desplacar, isso é possível de fazer, e a área poderia ser delimitada pra não permitir a entrada de pessoas. Estudos geotécnicos com esse tipo de análise são feitos em vários tipos de ocasiões, no brasil e no mundo, em grandes obras, por exemplo. Nós não temos o costume de fazer, e deveríamos ter, em áreas turísticas. apesar de não ter moradias perto, é uma área habitada por turistas. a grande lição que vai ficar é que essas preocupação geológica não deve ser restrita a áreas ocupadas, mas a áreas com circulação de pessoas. Com monitoramento, seria possível ter indícios de que a área seria mais suscetível a esses eventos, e essa área poderia ser interditada”.

Um deslizamento de pedras no Lago de Furnas, em Capitólio (MG), a cerca de 300 km de Belo Horizonte, atingiu quatro embarcações, com pelo menos 34 pessoas, neste sábado (8), e causou dez mortes. Um vídeo mostra o momento em que um dos cânions atinge as lanchas (veja acima).

O deslizamento ocorreu por volta de 12h30. Ainda não se sabe o que causou o acidente
Quatro embarcações foram atingidas, segundo os bombeiros
Dez pessoas morreram
Uma equipe de mergulhadores está no local e não há previsão de término das buscas (elas foram suspensas durante a noite e serão retomadas no domingo)
27 pessoas foram atendidas e liberadas
A primeira informação dos bombeiros dava conta de 20 desaparecidos, mas o número foi atualizado para 3
Bombeiros e Polícia Civil estão no local; a Marinha foi acionada e vai investigar a causa
Defesa Civil havia emitido um alerta sobre chuvas intensas na região com possibilidade de “cabeça d’água”; Marinha também investiga por que os passeios foram mantidos

Uma turista que presenciou o deslizamento de pedras no Lago de Furnas, em Capitólio (MG), que causou sete mortes, disse que perceber pedras caindo antes do desabamento e chegou a avisar o condutor da lancha.

Andréia Mendonça, que é de Patos de Minas, disse que notou várias lanchas na hora que houve a queda da pedra, pouco tempo de tirar fotos no local.

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