Entenda por que grávidas têm mais risco de desenvolver quadro grave de dengue

Brasil vive alta histórica; total de casos é mais da metade do registrado ao longo de 2023 e acima por completo de 17 anos da série histórica, como 2021, 2020, 2018 e 2017

sequelas da dengue na gravidez

(Foto: Freepick)

Um estudo realizado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) em 2024 aponta que mulheres grávidas correm risco 2,93 vezes maior de hospitalização e 5,4 vezes maior de desenvolvimento de quadros graves da dengue, se comparadas às que não estão grávidas.

O motivo, segundo os pesquisadores, seriam as mudanças anatômicas e fisiológicas pelas quais as gestantes passam durante o período de gravidez, o que as torna mais vulneráveis à doença. Alterações cardiovasculares, por exemplo, dificultam o diagnóstico correto da dengue e podem atrapalhar a avaliação da gravidade.

No estudo, a equipe analisou dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde, coletados entre 2016 e 2019. Foram incluídos 27.695 casos de dengue confirmados em mulheres de 10 a 49 anos. Dessas, 949 estavam grávidas.

Os resultados, publicados recentemente no periódico científico BMC Infectious Diseases, mostraram que o risco de hospitalizações e de dengue grave se mostrou 2,93 e 5,4 vezes maior, respectivamente, em grávidas do que em não-grávidas. Das não-grávidas, 6,8% foram hospitalizadas, 1,8% teve dengue com sinais de alarme, de gravidade intermediária, e, 0,1%, dengue grave. O risco para gestantes permaneceu aumentado independentemente da idade da mulher.

De acordo com a médica Denise Siqueira de Carvalho, co-orientadora da pesquisa e docente do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da UFPR, em entrevista ao Ciência UFPR, faltam estudos para avaliar quais características tanto da condição da gestante quanto das características dos tipos virais teriam influência na maior gravidade da doença nesse grupo.

No entanto, ela alerta para a necessidade de alertar a população como um todo e principalmente as mulheres em idade reprodutiva que desejam engravidar sobre a prevenção da doença. O uso de repelentes, por exemplo, é considerado eficaz, desde que haja indicação de produtos adequados para gestantes, observando-se também o intervalo e local das aplicações. Outra estratégia é o uso de telas para evitar a entrada do mosquito no ambiente domiciliar.

Por que Brasil vive alta histórica de casos em 2024?

O Brasil bateu, no início de março, a marca de 1 milhão de casos de dengue em 2024, em apenas dois meses. O total é mais da metade do registrado ao longo de 2023 e acima por completo de 17 anos da série histórica, como 2021, 2020, 2018 e 2017.

A alta de casos é atípica devido às proporções acima do esperado e a ocorrência mais cedo do que o normal. No início de fevereiro, a secretária de Vigilância em Saúde do ministério, Ethel Maciel, disse que, “em geral, há um crescimento de casos no final de março e começo de abril”, mas que em 2024 “nós começamos a ver o crescimento dos casos já em janeiro”.

— A estimativa do Ministério da Saúde é que a gente chegue a 4,2 milhões de casos. Nós nunca chegamos a esse número. Por isso, a preocupação e também pela pressão que isso pode acontecer no serviço de saúde — afirmou em entrevista coletiva. Caso chegue ao número, 2024 terá 149% mais casos do que o pior ano registrado até agora, 2015, quando foram 1.688.688.

Especialistas atribuem o crescimento a um conjunto de fatores, como a introdução de novas versões do vírus no país (existem quatro sorotipos do patógeno causador da dengue) e o impacto das mudanças climáticas. Além disso, destacam o arrefecimento de medidas de combate ao mosquito transmissor da doença, o Aedes aegypti.

Com informações do Jornal O GLOBO.

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