Convocação para o 7 de Setembro ganha novo discurso nas redes e cresce na última semana

Com narrativa de menos confronto, o chamado Dia D do bolsonarismo prega a liberdade de expressão e questiona veracidade das pesquisas eleitorais

Ao longo da última semana, a convocação para o 7 de Setembro se intensificou nas redes sociais dos bolsonaristas, com pico de 25 mil mensagens no último dia de agosto, segundo levantamento da pesquisadora do Núcelo de Pesquisas em América Latina (NUPESAL-UFRGS) Ana Julia Bernardi, no Twitter, Facebook e Youtube.Este ano, porém, o discurso encabeçado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), e amplificado por seus apoiadores virtualmente, mudou de tom, mas continuam a colocar em dúvida o sistema eleitoral e o resultado das urnas.

Se em 2021 o que se viu nas redes e nas ruas foram ataques diretos e agressivos ao Supremo Tribunal Federal (STF), por causa do inquérito das fake news, e às urnas eletrônicas, este ano, a narrativa vem se transformando na defesa da liberdade de expressão, que estaria sendo “atacada pelo STF e TSE”, como no caso da operação contra empresários bolsonaristas, e teorias da conspiração em relação às principais pesquisas eleitorais veiculadas na grande imprensa, que mostram o candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sempre na liderança.

O tom para a comemoração dos 200 anos da Independência do Brasil é de uma grande festa nacional, já apropriada pelo bolsonarismo e sem contraponto da oposição. A dimensão esperada do evento nas ruas, inclusive, já vem sendo explorada nas redes uma prova de que as pesquisas não refletem a realidade.

— O bolsonarismo vem controlando a narrativa de confronto das instituições. Não quer que a foto do 7 de Setembro seja uma foto violenta, pois apostam no segundo turno. A convocação é para mostrar que tem apoio nas ruas, que a imprensa é agente manipulador das eleições e há um ditador no STF, calando a democracia. Mesmo como pano de fundo, a desconfiança do resultado eleitoral e a ameaça à democracia estão ali — observa a pesquisadora, que analisou mais de 130 mil ocorrências com termos ligados ao tema 7 de Setembro nas redes sociais no período de 24 a 31 de agosto. Destas, 31% são de bolsonaristas.

Atos bolsonaristas no 7 de setembro trazem agenda antidemocrática

A mudança de postura dos eleitores do presidente nas redes vem de encontro com o apelo que integrantes da campanha de Bolsonaro têm feito a organizadores dos atos no 7 de setembro. Segundo a colunista Bela Megale, o principal pedido é que evitem estimular, com faixas e palavras de ordem nos carros de som, ataques ao Judiciário e às urnas.

O próprio presidente, em comício em Curitiba na semana passada, pediu a apoiadores que abaixassem uma faixa em defesa do golpe de estado, com os dizeres: “Presidente, acione as FFAA (Forças Armadas). Nova constituição anticomunista”.

Os picos de menções ao 7 de setembro surgem, sobretudo, em momentos em que há divulgação de notícias contra o presidente. Para Marcelo Alves, professor do Departamento de Comunicação e da Pós-Graduação em Comunicação da PUC-Rio, que também participou do estudo, a convocação age como uma cortina de fumaça para tirar a atenção para assuntos danosos à imagem de Bolsonaro.

—Temos visto o crescimento do assunto nos últimos dias, principalmente após a ação contra os empresários, que levantou muito o número de publicações, e o pico após a notícia sobre os imóveis da família comprados em dinheiro vivo — ressalta.

As métricas também apontam um crescimento do interesse pelo assunto em relação a agosto do ano passado nos canais bolsonaristas no Youtube. Na análise de 400 canais, houve um aumento de 6,9 milhões de visualizações para 8,4 milhões — as interações também cresceram de 81 mil para 141 mil.

As informações são do Jorna O GLOBO.

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