Bolsonaro tenta afirmar masculinidade, expõe Michelle e gera constrangimento

Ao longo da última quinta-feira (11), rodou pela internet um vídeo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) expondo sua intimidade com a primeira dama, Michelle Bolsonaro. Na abertura de um evento, Bolsonaro deseja bom dia aos presentes – menos para Michelle, “porque eu já dei um bom dia muito especial para ela hoje”. Assista:

Já é sabido que o presidente Jair Bolsonaro, que coleciona declarações grosseiras e com palavrões, não é um grande entusiasta do “decoro”. Segundo o dicionário Michaelis, a palavra significa “seriedade e decência ao agir; dignidade”, o que de fato falta ao presidente em determinara ocasiões. Ontem, faltou decência mais uma vez.

Os opositores não perderam a oportunidade de lembrar de uma entrevista de Michelle Bolsonaro em 2018, à Rede Super de Televisão. Na ocasião, ela contou que Bolsonaro é “um personagem fora de casa” e revelou um pedido que fez ao marido: “Eu até gostaria que você fosse um pouquinho assim dentro de casa, que tivesse um pouquinho mais de energia”.

O esforço de Jair Bolsonaro de expor a esposa, fazendo piadas com a vida sexual do casal, conseguiu constranger até o menos sério dos espectadores. A fala mostra, uma vez mais, a tentativa do presidente da República de reforçar sua virilidade – palavra que, segundo o dicionário Michaelis, significa “conjunto de traços típicos do homem; masculinidade”.

A atitude não é fato isolado. Recentemente, o presidente exibiu a “medalha do clube Bolsonaro”, que o classifica como “imorrível, imbrochável e incomível” (além de constrangedor, também homofóbico). Não satisfeito em mostrar a “honraria” que produziu para si mesmo, Bolsonaro ainda presenteou o boxeador Hebert Conceição, campeão olímpico, com a medalha. É, talvez, uma associação infantil, mas o presidente associou a luta à masculinidade.

Reforçar a masculinidade, ponto tão presente dos discursos de Bolsonaro, faz parte do discurso condizente com uma das bases eleitorais do presidente – e candidato à reeleição: a família tradicional brasileira. Bolsonaro se coloca como homem, provedor, em um contexto em que o homem manda e a mulher é subalterna. É nesse tipo de comportamento que Bolsonaro ganha apoio de pessoas como o jogador de vôlei Maurício Souza, muito incomodado com a orientação sexual de um personagem fictício que não performava masculinidade.

Além disso, há um ponto levantado pela antropóloga Rosana Pinheiro-Machado, autora do livro “Amanhã vai ser maior”: “Crises econômicas têm um papel fundamental na formação de subjetividades, emoções e frustrações das pessoas. No Brasil, é impossível separar a crise econômica da crise do macho” (p. 92). Como não relacionar o momento vivido pelo Brasil com o comportamento de Jair Bolsonaro? Não é como se o presidente não pudesse fazer “uma piada” (neste caso, não cabe esta classificação) ou sorrir porque o Brasil vive uma crise, mas enquanto a maior autoridade de país se vê rodeado de problemas, como inflação, preço da gasolina, fome e pobreza, ele arruma um novo assunto: a vida sexual dele e da esposa.

Isso sem contar que o reforço da virilidade é uma afronta direto ao feminismo e ao movimento de empoderamento e emancipação de mulheres. Bolsonaro quer constantemente mostrar a dominação masculina.

Sobre isso, Rosana Pinheiro-Machado diz: “No patriarcado, em tempos de recessão, um homem em crise de identidade é um ser reativo que vê a ascensão das mulheres como uma ameaça. A ideia de que existe um plano de dominação feminista pode fazer todo sentido para um sujeito desemprego, frustrado e destituído de essência”.

Talvez seja por isso que Bolsonaro e o bolsonarismo sempre trazem à tona as mesmas temáticas, ligados à própria masculinidade, com tamanha necessidade de reforça-la.

As informações são do Yahoo.

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