Agentes da Abin apagaram dados de mais de 30 mil monitoramentos irregulares sob Bolsonaro

SERVIDORES DA ABIN PRESO

Fachada da Abin — Foto: Agência O Globo

A Polícia Federal começou a ouvir nesta manhã os depoimentos de agentes da Abin que são alvo da operação Última Milha, que apura o uso irregular de programas de monitoramento da localização de pessoas por meio dos sinais de celular durante o governo Jair Bolsonaro e na gestão do ex-diretor Alexandre Ramagem, hoje deputado federal pelo PL do Rio.

A PF já sabe que jornalistas, advogados, políticos e adversários do governo foram alvo de vigilância sob o pretexto de proteção da “segurança de Estado”, que seria uma justificativa para a falta de autorização judicial.

O problema é que os investigadores só conseguiram localizar os detalhes de 1.800 dos mais de 33 mil monitoramentos realizados pelos agentes, por meio de uma espécie de “controle de operações” interno da Abin.

Foi nessa lista de 1.800 monitoramentos que foram encontrados os dados de jornalistas, políticos e adversários do governo que já se sabe terem sido alvos de vigilância. Os nomes dessas pessoas, assim como outros detalhes do inquérito, ainda estão sob sigilo por ordem do ministro Alexandre de Moraes.

De acordo com fontes da PF, os detalhes dos outros 31 200 monitoramentos que se sabe terem sido realizados foram apagados. A polícia quer saber dos investigados por que essas informações foram suprimidas do sistema e por ordem de quem.

Outro objetivo da operação de hoje é descobrir quem mandou fazer os monitoramentos irregulares, quem recebeu esses dados e o que fez com eles.

Além da prisão preventiva de dois agentes – Rodrigo Colli e Eduardo Arthur Yzycky — a operação cumpre 25 mandados de busca e apreensão nos estados de São Paulo, Santa Catarina, Paraná, Goiás e no Distrito Federal. As medidas judiciais foram determinadas por Alexandre de Moraes no âmbito do inquérito das fake news.

Como parte da operação, 20 pessoas foram intimadas a depor, todas ao mesmo tempo, nesta sexta, na sede da PF em Brasília.

De acordo com fontes da PF, os dois agentes presos, Rodrigo Colli e Eduardo Arthur Yzycky, não só participaram do monitoramento como, mais adiante, teriam usado o fato de saberem do uso irregular do sistema para tentar evitar serem demitidos.

A existência desse monitoramento ilegal, que foi feito entre 2019 e 2021, foi revelada pelo GLOBO em março passado. O caso gerou questionamentos internos na Abin e levou à abertura de um procedimento interno para apurar o caso.

Nos depoimentos dados nessa investigação interna, os agentes evitaram apontaram quem mandou fazer o monitoramento e não disseram como os dados foram usados.

De acordo com as investigações da PF, a ferramenta chamada “FirstMile”, comprada por R$ 5,7 milhões de reais sem licitação no governo Temer, permitia rastrear o paradeiro de uma pessoa a partir de dados transferidos do celular para torres de telecomunicações instaladas em diferentes regiões.

As informações são de Malu Gaspar, do Jornal O GLOBO.

Sair da versão mobile