‘Acordei com a chuva e em cinco minutos tinha perdido tudo’, diz moradora do Recife

Nas últimas 24 horas, pelo menos 30 pessoas morreram, além dos outros cinco óbitos ocorridos na última quarta-feira (25/5), totalizando 35 vítimas

“Acordei com o barulho da chuva às quatro e meia da manhã. Eu, minha filha e minha mãe tentamos tirar a água, mas a correnteza vinha muito forte. Só deu tempo de pegar as crianças, os documentos, e sair. Em cinco minutos a água já estava no teto”, diz Luana José, de 39 anos, moradora do bairro Monteiro, em Recife.

Na casa de Luana, moravam também três crianças – pela agilidade em sair da casa, ninguém se machucou.

A família foi uma das tantas afetadas pelas fortes chuvas e deslizamentos de terra causados pelas tempestades na região do Grande Recife. Nas últimas 24 horas, pelo menos 30 pessoas morreram, além dos outros cinco óbitos ocorridos na última quarta-feira (25/5), totalizando 35 vítimas.

Todos os móveis, roupas e outros objetos da família de Luana ficaram na casa inundada. “Perdi tudo que juntei a vida inteira, agora não sabemos o que fazer. Tenho depressão e a situação não é nada boa.”

A família agora tem planos de buscar abrigo na escola Estadual Silva Jardim, um dos vários pontos escolhidos pela prefeitura da capital para receber pessoas que perderam a casa.

Luana José tem 39 e morava no bairro Monteiro, em Recife (Foto: Fausto Filho/Instituto Casa Amarela Social)

Mas, de acordo com Luana, ela tem medo de sair do local, e após a água baixar, alguém tentar invadir a propriedade. “Sabemos que estão entrando em casas que ficaram destrancadas, por isso estamos aqui, sem comer nada o dia todo, olhando, mesmo que de longe”, afirma a moradora, que ainda tem esperança de conseguir salvar algo que ficou na residência.

De acordo com a Codecipe (Central de Operações da Coordenadoria de Defesa Civil do Estado de Pernambuco), assim como Luana e sua família, mais de 700 pessoas que residiam na região do Grande Recife estão desabrigadas.

O Instituto Casa Amarela Social, que representa a ONG G10 Favelas em Pernambuco, é um dos grupos que auxilia famílias pobres de Recife, e está atualmente em campanha para arrecadar doações para as vítimas das chuvas

Com chuvas ainda previstas para a região nas próximas horas, a depender da extensão da destruição causada pelos alagamentos, a saúde dos moradores ainda pode estar risco em médio e longo prazo.

“Essas enchentes e deslizamentos de grandes áreas têm capacidade de destruição do sistema de saneamento – caso ele exista na região”, explicou Carmen Fróes, professora da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e pesquisadora do tema de exposição à poluentes ambientais, à BBC em entrevista feita em fevereiro de 2022.

Com isso, a população pode ter seu sistema de água contaminado por escombros e esgoto, ambos contando com a possível presença de agentes biológicos nocivos. “Um risco bastante comum é ter o aumento dos casos da doença chamada leptospirose, causada por um microorganismo presente na urina do rato”.

Casas tomadas pela água no bairro Monteiro, em Recife (Foto: Fausto Filho/Instituto Casa Amarela Social)

Além do risco de ingestão direta de água contaminada pelo extravasamento do sistema de saneamento, há ainda a possibilidade de que, ao se deslocar de um lugar para outro, a pessoa que tenha qualquer tipo de ferida não cicatrizada — por menor que seja — se contamine por ter contato com a água ou com a lama.

Sem o controle dos órgãos públicos e concessionária, a água potável que passaria por tratamento é oferecida com contaminação por esgoto, aumentando as chances de quadros associados às precárias condições de saneamento básico, como diarreia bacteriana, febre tifoide e hepatite.

Mexer nos escombros também é perigoso por aumentar o risco de tétan. “É uma infecção causada pela bactéria Clostridium tetani, que é geralmente encontrada no solo, na poeira e em fezes de animais, e acessa o organismo através de ferimentos ou lesões de pele”, afirmou a especialista.

As informações são da BBC.

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